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Para países como o nosso, altamente vulneráveis às alterações climáticas, o futuro pode ser profundamente ameaçado — por secas severas, subidas drásticas do nível do mar e fenómenos extremos que colocam em risco a nossa sobrevivência.

Mas seria mais simples se estivéssemos apenas a falar de clima. A crescente instabilidade política a nível global exige a nossa atenção. Queremos mesmo assistir, impotentes, ao surgimento de uma nova guerra mundial ou a uma nova era de tensão global como a Guerra Fria?

No nosso arquipélago, calmo e democrático, esses alertas chegam como ecos distantes. Para quem vive sem saber como será o dia de amanhã, as urgências do quotidiano falam mais alto: contas por pagar, necessidades básicas, adversidades constantes. Nessas circunstâncias, pensar no futuro parece um luxo.

É preciso um mínimo de bem-estar para se conquistar a liberdade. Quem vive com fome ou medo, não é livre — mesmo quando vive em países que ocupam boas posições em rankings internacionais de desenvolvimento humano. A pobreza não é apenas falta de recursos: é um bloqueio estrutural às aspirações de longo prazo.

Ainda assim, é precisamente por isso que precisamos de nos fazer ouvir. Porque a mudança só acontece quando nos tornamos parte ativa das decisões que moldam o nosso presente e futuro. Não queremos ser apenas um pequeno ponto no mapa, invisível aos olhos do mundo. 

Nunca foi tão urgente unirmos as nossas vozes — não apenas para dizer “não” à guerra, mas para afirmar com coragem e clareza a necessidade da paz. É tempo de compromisso com a vida, com a justiça, com a dignidade humana e com o planeta.

De que vale uma voz isolada? A resposta está na força do empoderamento comunitário. Sozinhos, podemos pouco. Juntos, somos transformação.

Foi com este espírito que decidimos participar, este ano, no World Forum of Favelas, organizado pela CUFA Global. A nossa contribuição nasce da Mesa Redonda realizada no Kumunidadi Fest, da qual emergiu uma declaração coletiva que reflete o posicionamento de líderes comunitários sobre o futuro da juventude, os impactos das alterações climáticas e a necessidade de uma liderança enraizada nas comunidades.

Essa declaração será levada ao Fórum, que reunirá representantes dos 68 países onde a CUFA está presente. Dela resultará um comuniqué internacional, que será entregue à COP 30 e ao G20, através da representação oficial da CUFA — que dá voz a mais de 5.000 favelas no Brasil e 68 países no mundo.

É pouco? Claro que é. Precisamos de mais espaços? Claro que sim. O importante é pensar na perspectiva de irmos chegando a diferentes locais com os mecanismos que já temos ou podemos ir construindo e acima de tudo as nossas “armas” são participar, estar presente nas decisões e persistir. 

A transformação social é, por si só, um ato coletivo que só atinge o ser verdadeiro potencial quando conta com todos.

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