“O mundo não está bom outra vez”, pensamos. Enquanto as notícias internacionais nos dão conta de um caminho tenebroso de guerras e eleição de líderes que defendem os extremismos, questionamo-nos, porquê continuar no caminho contracorrente do impacto social? “Pensar pelas nossas próprias cabeças”, diria Amílcar Cabral, mas a dúvida é sobre o que ele diria do mundo de hoje.

A imagem que vos trazemos hoje é completamente intencional. Faz parte de uma campanha realizada em 2021, dedicada ao Dia da Terra, por uma agência criativa norte-americana centrada na ideia de que não há planeta B. A nossa única opção é o planeta Terra. 

Ver também em: Empreendedorismo social: Será que vale a pena? – Balai

O billboard, que foi propositadamente escolhido para ser colocado em frente à sede da SpaceX em Hawthorne, CA, tem a forte declaração “Mars sucks” (desculpem, não posso colocar a tradução).

“Queríamos fazer uma declaração que chamasse a atenção do mundo, com o único propósito de encorajar as pessoas a ver a importância de priorizar a Terra”;  “Com a SpaceX e Elon Musk a representar Marte, o outdoor digital do lado de fora da sede da SpaceX deu-nos uma oportunidade única de fazer a nossa declaração de que Marte pode esperar, mas a Terra não pode – tudo de bom humor, com uma piscadela e um sorriso”, escreveu Paco Conde e Beto Fernandez, fundadores da agência Activista, em um e-mail conjunto para dot. LA (saber mais em: https://dot.la/mars-sucks-2652739365.html). 

A campanha já não é recente, mas o tema é. O nosso planeta ainda não encontrou o momento em que a humanidade se alinha para a sua sobrevivência e, por conseguinte, a sobrevivência de todos os humanos, que não tenham interesse em fazer as malas para ir viver em Marte.

Parece sempre ser mais fácil ter uma perspectiva egoísta nos dias de hoje. Trabalhar sozinho para chegar mais depressa (mas nunca mais longe), defender os seus próprios interesses (em detrimento dos outros) e construir muros muito altos para que a realidade lá fora não tenha de vir bater à minha porta. Mas a verdade é que a realidade do resto do mundo sempre bate a cada porta individual. A História já nos mostrou isso, um movimento nazi que se inicia numa zona, numa cidade, num país e em pouco tempo quase engoliu um continente.

Parece que estamos a voltar à estaca zero. E com isto eu volto a perguntar, será que vale a pena estar na contra-corrente a debater-nos para criar melhores contextos para comunidades mais vulneráveis?

Está tudo nos nossos valores e em como eles têm de ser inabaláveis, mesmo perante a possibilidade da nossa derrota diária.    

Este não é um discurso de perda. É antes um discurso que vocaliza o caminho de todas as organizações que compõem a Comunidade WeCare, cada uma, nos seus diferentes desafios e níveis de desenvolvimento, nacionais ou internacionais. Estamos todos engajados com a transformação positiva e não recuaremos sem missão cumprida.

Há alguns anos, numa entrevista com o ativista Paulino Moniz, ele contou-me que tinha com frequência propostas de trabalho internacionais, onde possivelmente o seu trabalho poderia ser mais visível e uma realidade financeira muito melhor. No entanto, a sua opção foi sempre Cabo Verde, e continua a ser, porque é na sua terra que ele quer deixar trabalho feito. 

Como ele, existem muitas outras pessoas que lideram o trabalho social nacional e é para essas pessoas que a WeCare trabalha, reconhecendo que o nosso papel está em dar as ferramentas através da capacitação, de forma a tornar as organizações mais fortes e mostrar ao mundo que Cabo Verde, em tempos, foi um país “improvável”, mas atualmente é um País Modelo no caminho dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável.

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